Exploração infantil em rio amazônico

Famílias ribeirinhas têm se arriscado nas águas do rio Arapiranga para pedir esmolas às embarcações que fazem o trajeto Belém - ilha de Cotijuba. Autoridades fazem o alerta para a prática, considerada como exploração do trabalho infantil.

Rabetas com ribeirinhos se aproximam de embarcação para pedir esmola. Risco grande para envolvidos. Foto: Cézar Magalhães
A equipe de reportagem do DOL acompanhou a situação de risco e esteve na comunidade onde as famílias pedintes vivem. Confira na matéria especial do DOL o que as instituições de fiscalização falam sobre a realidade:
ESMOLA SOBRE AS ÁGUAS
Exploração do trabalho
infantil em rio amazônico
FAMÍLIAS
ARRISCAM VIDAS EM TROCA DE MIGALHAS
Uma rotina pouco conhecida nos rios da Amazônia tem envolvido crianças e
adolescentes, que arriscam suas vidas em busca de alimentos, roupas, dinheiro e
variados objetos para somar na renda de suas famílias.
Nos últimos anos, ganha força na região a exploração de mão de obra
infantil para o pedido de esmolas. Um perigo evidente e cada vez maior, devido
a forma como ocorre sobre os rios de água doce.
O Diário On Line flagrou a situação no rio Arapiranga, no trajeto comum
de quem faz a rota Belém - ilha de Cotijuba. Os pequenosribeirinhos são
vistos se equilibrando sobre rabetas para receber donativos de
turistas que navegam próximo das comunidades, geralmente isoladas, durante
expedições turísticas e passeios fluviais da rota.
Os principais incentivadores desta prática são os próprios pais: nos
finais de semana, os ribeirinhos deixam suas comunidades e cercam as grandes
embarcações como piratas, com os filhos nos braços.
Além do risco de sofrerem insolação, essas crianças e
adolescentes são obrigados a seguir nesta aventura que a qualquer momento pode
virar tragédia.
Rosilene Cardoso Alves, 24 anos, é casada e mãe de três filhos. A dona
de casa é moradora da comunidade Vila, às margens do rio Arapiranga, área do
município de Barcarena. Lá não existe água encanada nem
energia elétrica, sendo a pesca e a agricultura familiar as principais fontes
de renda dos habitantes.
A COMUNIDADE
VILA É ADMINISTRADA POR BARCARENA
A prática de pedir esmolas, segundo Rosilene, ajuda a somar a renda do
marido - que é pescador - e dos R$ 298,00 mensais do programa Bolsa
Família. Sem remorso, diz que leva os três filhos para sensibilizar quem
passa e conseguir as esmolas.
"Eu só tenho essa atividade, não faça nada", afirma Rosilene.
"No inverno a nossa situação fica difícil e melhora apenas no mês de
agosto, época de açaí e camarão. Os meus filhos têm sete, quatro e um ano de
idade, e todos vem comigo pedir esmola."
Em relação aos perigos, a dona de casa reconhece. "Eu tenho medo,
sim. Existe o risco da rabeta afundar e eu não conseguir salvar os meus três
filhos, mas o que eu posso fazer?."
Os riscos são evidentes e mais comuns do que se pensa. Moradora da
comunidade e também dona de casa, Valéria Ferreira Monteiro, 29 anos, sofreu um
acidente há dois anos, quando caiu da canoa. Um susto que deixou sequelas.
"É
TRISTE E DEGRADANTE", AVALIA CONSELHEIRO TUTELAR
"Minha família e eu atravessávamos o rio quando cortaram a frente
da canoa. Fiquei alguns minutos embaixo da água, machucada e sem poder
respirar", relembra com angústia. "A qualquer momento uma criança
pode cair e acidentes como aquele acontecerem de novo. Até hoje sinto dores e
dificuldades para andar."
As imagens registradas com exclusividade pela equipe de reportagem do
Diário On Line chegaram ao conhecimento do Conselho Tutelar. O conselheiro
Benilson Silva também externou a preocupação com os riscos que as crianças
estão expostas. Na entrevista aponta ainda os pontos que infringem as normas do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
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