Imagem e texto O ANTAGÔNICO
O entrevistado deste domingo é o advogado Sávio Barreto, que resolveu encarar o desafio de encabeçar uma chapa para a OAB do Pará. Sávio é advogado desde 2002, é sócio fundador do escritório Barreto & Costa. Com 20 anos de estrada, é graduado e mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará no triênio 2016/2018. Também é professor universitário e atua nas áreas constitucional, cível, consumidor, falimentar e recuperacional.
O Antagônico – O que levou você a aceitar o desafio de encabeçar uma chapa para a OAB do Pará ?
Sávio -
Posso responder essa pergunta em uma única palavra:
insatisfação. Insatisfação com a omissão da OAB em
relação aos problemas mais graves da advocacia,
dentre os quais essas filas absurdas nas UPJs do
fórum cível de Belém. Insatisfação com o enfraquecimento do
brilho institucional da OAB. A entidade não se posiciona em
questões ambientais, agrárias e direitos humanos, que
são basilares e esteios da sociedade. Insatisfação com o uso do
Sistema da OAB para perseguir colegas que criticam a gestão.
Insatisfação em ver o dinheiro da advocacia sendo utilizado em campanha
eleitoral antecipada, a ponto de ter sido organizada uma
grande comitiva para inaugurar, às vésperas das eleições, uma
pedra em Canãa dos Carajás. E por aí vai.
O Antagônico – A OAB no Pará, a exemplo de outras instituições, vem sendo administrada a décadas por um grupo dominante, dessa vez haverá alternância
Sávio - O
grupo adversário, que podemos chamar de situação,
formou uma chapa sem absolutamente nenhuma renovação nos cargos mais relevantes.
Eles fazem tão somente a dança das cadeiras. Só mudam as
posições, com os mesmos jogadores,
alimentando o sistema. Usam a OAB para pontilhar uma carreira
profissional. Veja o exemplo do
Eduardo Imbiriba. Ele continuamente exercendo vários
cargos na diretoria e agora pleiteia a presidência. Tem
algo de estranho nisso, não?
O Antagônico – Quais as principais propostas da sua chapa nessa, digamos pré-candidatura?
Sávio – Como você disse,
trata-se
de uma pré-candidatura.
Portanto, respeitando as
regras do
jogo,
ainda não posso falar como candidato. Mas antecipo que o nosso plano e
perfil de gestão será absolutamente diferente da proposta continuísta dos
nossos adversários. Nossas propostas serão apresentadas
oficialmente a partir do dia 15 de
outubro,
data em que a chapa será registrada.
O Antagônico – Como você avalia a atual gestão da OAB Pará ?
Sávio - Eu
já falei da minha insatisfação. Mas não quero com isso apresentar
discurso generalizante. A entidade OAB é muito representativa, formada
por dezenas de advogadas e advogados, muitos deles comprometidos com as
causas e anseios da categoria. Muitos colegas, que
integram a atual gestão, decidiram apoiar o nosso grupo.
Apesar do
esforço e empenho de alguns, posso afirmar que, no
geral, essa
é a pior gestão que já passou pela OAB Pará.
O Antagônico – A OAB no Pará é muito atrelada a política
partidária. Qual a linha que será seguida pela chapa de oposição ao atual grupo
que comanda a Ordem no Pará ?
Sávio - A OAB, como entidade, é um órgão político. Estou falando da política classista. A política partidária, via de regra, não deveria entrar na nossa casa. Reputo como grave e lamentável a forma como a atual gestão deixou, não apenas a política externa, mas também os interesses pessoais tomarem conta da gestão. Isso tem que mudar. O nosso partido deve ser sempre a OAB
O Antagônico – A questão carcerária é muita séria em nosso Estado. Muitos advogados vivem as turras com o atual diretor da SEAP, Jarbas Vasconcelos, que já foi presidente da ordem. A maioria das queixas atentam para cerceamento de direitos em relação ao acesso dos advogados aos seus clientes. O que o senhor acha dessa situação ?
Sávio -
Nesses último três anos de gestão a OAB só teve uma única pauta:
Sistema Penitenciário. É como se a advocacia não tivesse mais
nenhum outro problema. Esse embate não se deu no sentido de
propor melhorias para a advocacia criminalista.
Infelizmente, a atual gestão da OAB/PA
não apresentou, enquanto entidade representativa,
nenhuma proposta de aperfeiçoamento do sistema penitenciário.
Nesse quesito ainda tem muita coisa a
ser feita. As melhorias que ocorreram,
como a criação e modernização de parlatórios, a implantação de audiência virtual, o
sistema de agendamento, dentre outras, são de iniciativa unilateral da própria SEAP. A
atual gestão da OAB - isso não é segredo para ninguém - tem
rixa pessoal com o atual gestor da SEAP, o ex-presidente
da OAB/PA, Jarbas
Vasconcelos. Ocorreram, sim,
problemas no âmbito do sistema penitenciário quando a FTIP
ingressou no nosso Estado para controlar o domínio das facções criminosa. Mas
a OAB/PA, ao
invés de enfrentar a questão de forma sensata,
preferiu utilizá-la como palco de uma guerra pessoal,
fazendo proselitismo político. Na prática estão apagando fogo com
gasolina. Veja o exemplo das judicializações da
OAB/PA
contra as
Portarias da SEAP. Foram mal formuladas e tiveram seus
principais pleitos julgados improcedentes. Quem sai ferido dessa guerra não é o
Jarbas e nem o Alberto, mas sim a advocacia criminalista. O
Curioso de tudo isso é que o Alberto foi conduzido à presidência da OAB/PA
pelas mão dos Jarbas, com quem mantinha estreita amizade.
Coisas da política...
O Antagônico – Na sua opinião, quais os grandes anseios da categoria atualmente?
Sávio – Os anseios são muitos, mas
todos passam por valorização. O advogado quer se sentir mais
valorizado, não apenas como advogado, mas
também como classe. A valorização da advocacia, por
sua vez,
depende,
fundamentalmente de três fatores: defesa das prerrogativas,
maior capacitação e melhor remuneração, seja para aqueles que militam na
esfera privada, seja para os que atuam na esfera
pública.
Tenho muita preocupação com os advogados recém-formados.
Eles chegam no mercado de trabalho tendo que se “virar nos 30”, sem
qualquer apoio institucional. A atual gestão se limita a promover
cursos.
Isso é suficiente? Claro que não! No
momento adequado vamos anunciar uma série de propostas que estão sendo
formuladas coletivamente pelos jovens advogados que aderiram ao nosso movimento.
O Antagônico - As mazelas que a classe dos advogados enfrenta são muitas. Qual a sua visão e estratégia sobre a pauta. O que poderia ser melhorado e o que faltou a atual gestão realizar para que as prerrogativas da classe sejam respeitada
Sávio -
Penso que a defesa das nossas prerrogativas na atual gestão tem dois graves
problemas. O primeiro é a falta de eficiência.
Estardalhaço em redes sociais não vai trazer respeito para a advocacia.
Nota de repúdio, ainda que necessária em alguns
momentos, ajuda, mas
também não resolve. Uma forma eficiente de defesa das
prerrogativas seria a OAB/PA dar efetivo e concreto apoio ao
advogado para processar, civil e criminalmente,
aqueles que não respeitam as nossas prerrogativas profissionais. O
outro problema é a seletividade. A atual Comissão de Prerrogativas só
funciona para quem é amigo da gestão. Em recente visita a municípios do
oeste paraense, ouvi o impactante relato da advogada
Lia Farias, que atua em Oriximiná. Ela
foi agredida verbal e fisicamente em uma delegacia. Foi
a situação mais grave envolvendo nossas prerrogativas nos último três anos. Não
bastasse a dor de ter passado por essa situação vexatória, a
advogada não foi devidamente amparada pela OAB/PA.
Tudo porque os agressores e a advogada dos mesmos,
pasmem, tem
relações próximas com a atual gestão. Maiores detalhes sobre esse caso e
outros,
envolvendo a atuação nada republicana da Comissão de Prerrogativas,
serão expostas durante a campanha para que cada um possa fazer seu próprio
julgamento.
O Antagônico – Qual a sua expectativa para o pleito da OAB? Será no campo das ideias e projetos ou uma peleja entre os candidatos ?
Sávio - Apresentaremos
nossas propostas e tentaremos conduzir a campanha pela via propositiva. Se
nossos adversários forem inteligentes não baixarão o nível da campanha. Se
isso ocorrer eles têm muito mais a perder.
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