Operação era de combate ao avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku. Mas garimpeiros liderados pelo vice-prefeito de Jacareacanga incendiaram aldeias e atacaram base federal.
Por g1 Pará —
Belém
19/01/2022 09h00 Atualizado há 9
horas
Casa em aldeia Munduruku é incendiada em Jacareacanga, no Pará. — Foto: Reprodução
O vice-prefeito de Jacareacanga, sul do Pará, Valmar Kaba Munduruku, foi
condenado pela Justiça Federal a quatro anos e um mês de prisão por liderar protesto violento contra
operação de combate à mineração ilegal na cidade.
Em maio de 2021, casas de lideranças
indígenas foram incendiadas durante a operação Mundurukânia 1.
Após o ataque, a Justiça Federal ordenou atuação de forças
federais no estado.
Uma das lideranças da
manifestação, Valmar foi preso pela
Polícia Federal em julho de 2021. O g1 ainda tentava contato com a defesa do vice-prefeito
até a publicação da reportagem. Ele continua preso.
A condenação é um pedido do Ministério Público Federal (MPF). A ação cita que, na referida manifestação, garimpeiros ilegais invadiram a base da operação e atiraram rojões, pedras e pedaços de pau na direção dos agentes públicos e dos helicópteros utilizados. Dois policiais foram feridos. A ação também deixou dez pessoas feridas.
A operação alvo de protesto foi batizada de Mundurukânia e tinha como
objetivo o combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku.
A ação foi realizada por decisão judicial em processo iniciado por ação
do MPF e também fez parte de medida determinadas pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) para a expulsão de invasores de terras indígenas.
Penas
Ainda de acordo com o MPF, a Justiça Federal determinou o regime inicial
semiaberto para cumprimento da pena do vice-prefeito.
Ele também deve perder o cargo público quando a sentença transitar em
julgado, ou seja, quando não houver mais possibilidade de apresentar recursos.
Outros dois líderes dos protestos também foram condenados. Allan Everson
Dias Carneiro e José Tiago Correia Pacheco foram sentenciados, cada um, a
quatro anos e três meses de reclusão em regime inicial semiaberto. O g1 também tenta contato com a defesa deles.
A sentença foi proferida em 15 de dezembro de 2021 e veio a público
nesta quarta-feira (19).
Na última semana, o MPF, autor da denúncia contra os três condenados,
pediu à Justiça a análise e pronunciamento sobre a aplicação da pena de perda
do cargo público. A aplicação da pena foi então confirmada pela Justiça.
Entenda o caso
Aldeias são incendiadas em Jacarecanga, no Pará. — Foto: Reprodução / MPF
Os atos hostis ocorreram entre 25
a 27 de maio, logo após a deflagração da Operação Mundurukânia 1,
que combatia a prática clandestina de garimpos nas terras indígenas Munduruku e
Sai Cinza, no município de Jacareacanga.
Essa prática, além de provocar graves danos ao meio ambiente, devido ao
uso de produtos químicos altamente nocivos, o que causou a poluição de rios e
lençóis freáticos, também gerou conflitos entre garimpeiros e indígenas.
Os manifestantes, que seriam de grupos do garimpo, tentaram invadir a base e
depredar patrimônio da União, aeronaves e equipamentos policiais,
provocando que medidas de contenção fossem tomadas com efetividade para a
dispersão dos invasores sem que houvesse feridos.
De acordo com a PF, o cumprimento dessa operação também faz parte de uma
série de medidas, determinadas pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís
Roberto Barroso, em julho de 2020, para realizar o enfrentamento e
monitoramento da Covid-19, a fim de evitar o contágio e a mortalidade entre a
população indígena.
Ainda segundo a PF essa prática, além de provocar graves danos ao meio
ambiente devido ao uso de produtos químicos altamente nocivos, ainda causa a
poluição de rios e lençóis freáticos, além de gerar uma série de outros
problemas sociais na região, como conflitos entre garimpeiros e indígenas.
Como resposta aos ataques, a PF realizou a operação Mundurukânia II, que investigou os agressores. Os agentes já cumpriram seis mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal de Itaituba.
A Terra Indígena Munduruku, em Jacarecanga, é uma das áreas que deveriam
ser protegidas mais afetadas pelo desmatamento ilegal na Amazônia.
Desmatamento em maio de 2021 em
Jacareacanga, município que sobrepõe a TI Munduruku. Em 2016, área não tinha
desmatamento. — Foto: G1
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