VELOSO DEPOIS DO CONFLITO
Haroldo Veloso voltou a Belém em 24 de junho de 1969. A primeira visita que recebeu, no Central Hotel, onde ficou hospedado, foi do prefeito de Belém, Stélio Maroja. No dia seguinte, quem o visitou foi o vice-governador, João Renato Franco, a quem procurou logo em seguida, em seu gabinete, no prédio da Assembleia Legislativa, para retribuir, seguindo depois para a prefeitura e para o QG da 1ª Zona Aérea, não para ver o comandante, brigadeiro Joléo da Veiga Cabral, mas o chefe do Estado-Maior, coronel Fernando Palermo. Saiu com ele e outros oficiais para almoçar na Base Aérea.
Veloso, à direita, com índio em Jacareacanga
À tarde foi à redação da Folha do Norte agradecer pelo noticiário do jornal durante o conflito. Acompanhado por Manoel Moraes, foi recebido pelo diretor gerente João Maranhão e jornalistas Fernando Moreira de Castro e Herrera Filho.
À noite, na peixaria da Basílica de Nazaré, foi-lhe oferecido um jantar pelo senador Milton Trindade e deputado federal Antônio Martins Júnior, da Arena, e senador Mora Palha e ex-deputado federal Hélio Gueiros, do MDB.
Disse que iria a Santarém “rever os amigos”. Estava “totalmente recuperado” da fratura, mas a perna ferida ficara paralisada, “em virtude da insensibilidade térmica que a atingiu e em consequência de o nervo ciático ter sido cortado por baioneta”.
Não viajaria para os Estados Unidos para concluir o tratamento da perna ferida, como chegou a ser anunciado. Especialistas da Associação Brasileira Beneficente e de Reabilitação consideraram desnecessário a viagem, “uma vez que com os recursos empregados no Brasil ter sido superada a fase de perigo”. O tratamento já estava no estágio de restabelecimento. A plena recuperação era questão de tempo. Mas morreu seis meses depois, aos 49 anos.
DE VOLTA À SANTARÉM
Nove meses depois de ter sido baleado (na coxa direita), Veloso retornou a Santarém, em 29 de junho de 1969. Usava um par de muletas. Muita gente o esperava no aeroporto, inclusive o interventor, Elmano Melo. Seguiu em passeata para o centro da cidade. À frente, bicicletistas. No local do conflito, houve um minuto de silêncio. Depois, comício em praça pública, com vários oradores.
COM ELIAS PINTO
Haroldo Veloso compareceu ao aniversário de 42 anos de Elias Pinto, comemorado em 31 de julho de 1967, no Centro Recreativo, em Santarém. Dois meses depois, o prefeito seria afastado do cargo pela Câmara Municipal, controlada pela Arena, o partido do governo.
Créditos: Arquivo/Lúcio Flávio Pinto
Outra ironia do destino foi quando, as linhas da vida de Veloso se cruzaram com o político da oposição mais bem sucedido na eleição de 1966: o ex-deputado estadual Elias Pinto, eleito pelo MDB (atual PMDB) prefeito de Santarém, que era o segundo município mais populoso e importante do Pará.
Num comício em Santarém, já ao lado daquele que devia ser seu adversário, Veloso denunciou a existência de uma nova trama para impedir a vitória de Elias, vítima de fraudes na votação e na apuração dos votos em duas tentativas anteriores de chegar à prefeitura. O emedebista acabaria obtendo dois terços dos votos válidos, um resultado que o governador (e tenente-coronel da reserva do exército), Alacid Nunes, detestou. Seria prova de desprestígio e de inferioridade em relação àquele que fora decisivo para sua eleição no ano anterior, o senador Jarbas Passarinho, de quem já começava a se distanciar.
A máxima golpista da UDN comandou a reação do governador à presença de um oposicionista em cargo político tão importante. De manobra em manobra, ele chegou ao máximo: impedir, com tropa armada, a volta de Elias à prefeitura, da qual fora afastado pela maioria arenista na câmara municipal. Veloso comandava a passeata que iria levar o prefeito à sede do poder local e que foi recebida a bala. Três pessoas morreram e Veloso foi ferido. Morreu um ano depois, em outubro de 1969, aos 49 anos, de complicações decorrentes do grave ferimento que sofreu. Por mais uma ironia, o suplente, Epílogo de Campos, não pôde assumir. Fora cassado pelo governo militar.
Conversei algumas vezes com Haroldo Veloso, antes e depois da passeata de setembro de 1968, três meses antes da instauração da ditadura plena pelo AI-5, no fatídico 13 de dezembro de 1968, quando as luzes do Brasil foram apagadas e as trevas se estabeleceram. Dentro dele habitava o militar impetuoso, que não suportava o ritmo pausado da democracia. Afora isso, sua aparência inicialmente hostil se desfazia quando confiava no interlocutor. E se abria quando em operação de campo, o que mais gostava de fazer.
Depois de ferido, no corpo e na alma, e em função da longa hospitalização, ele se tornara agressivo. Uma vez garantiu que voltaria a Belém para acertar as contas com Alacid Nunes, a quem responsabilizava pela violência usada pela Polícia Militar contra os manifestantes e ele, em particular. Foi mais um projeto que não realizou.
Chegada do Major Haroldo Veloso na cidade de Itaituba, logo após sua prisão.
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REMENDO RP
Entenda melhor a história de Haroldo Veloso, na postagem deste Blog A REVOLTA DE JACAREACANGA - UM ENSAIO DE GOLPE MILITAR link https://www.rastilhodepolvora.com.br/noticia/a-revolta-de-jacareacanga-um-ensaio-de-golpe-militar
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